NOVIDADES

29/12/12

Óscar Niemeyer e a escrita curva



Coloca-se a questão: Corresponderá a “arquitetura” da escrita  de Óscar Niemeyer à sua noção de arte? A sua escrita será, predominantemente, angulosa ou arredondada? É, precisamente, este dilema que vou aqui, brevemente, desvendar.

O famoso arquiteto afirmava:

O que me atrai é a curva livre e universal. A curva que encontro nas montanhas do meu país, na mulher preferida, nas nuvens do céu e nas ondas do mar. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein.”

A sua escrita é, de facto, arredondada e a linha de base não apresenta um alinhamento horizontal rígido, mas avança com ligeira convexidade ou concavidade. A mesma concavidade se verifica na margem esquerda. A ligação entre as letras apresenta uma forma agrinaldada. A consoante  “s” minúscula, em vez de imitar o modelo escolar, com um ângulo no topo, contém uma curvatura na parte superior.  Nos ovais não se observam ângulos. As vogais “AA” maiúsculas são elaboradas a partir dos “aa” caligráficos minúsculos mais arredondados. As pintas dos “ii” e os pontos finais são precisos e redondinhos. As hastes que se prolongam pelas zonas superior e inferior não apresentam, geralmente, uma forma reta marcada. Os próprios traços horizontais, como a barra do “t”, são pouco vincados. Os ângulos da cabeça do  “r”  foram esbatidos. A assinatura não finaliza com nenhuma rubrica angulosa ou prolongamento em segmento de reta.  A pequena dimensão da escrita  afasta-nos duma conceção arquitetónica da forma como simples acessório, mas aproxima-nos  mais da forma como substância.
A inclinação para a direita dos carateres está  mais relacionada com a emoção do que com a razão.  As letras mais largas do que altas são sinal de maior tendência em direção aos outros e ao meio. A valorização dos traços ovais em relação aos verticais poderá simbolizar o predomínio da afetividade e da ternura sobre a agressividade e o poder.


A personalidade de Niemeyer parece mais próxima da “anima” do que do “animus” de Carl Gustav Jung.
A curvatura simbolizada pela concavidade do regaço materno predomina, em Niemeyer, sobre a trajetória reta do cajado masculino.



24/12/12

Escrita manual de Teresa de Ávila



Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada, oriunda de uma família da baixa nobreza,  nasceu em 28 de março de 1515, em Gotarrendura, província de Ávila, Espanha.

Aos 7 anos de idade, Teresa já gostava de ler histórias de santos. Quando era ainda pequena, juntamente com o seu irmão Rodrigo, fugiu de casa, com o desejo de se tornar mártir por Jesus às mãos dos muçulmanos. A sua mãe morreu quando ela tinha 14 anos. Aos 15 anos, o pai internou-a num colégio de freiras e, apesar da oposição paterna, decidiu fazer-se religiosa.
 
Fundou vários conventos das irmãs religiosas descalças onde predominava a extrema pobreza e uma vida inteira de quase perpétuo silêncio.
Faleceu em 4 de Outubro de 1582, em Alba de Tormes, na província de Salamanca. Mais conhecida por Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Jesus, ficou famosa pela reforma que realizou na Ordem dos Carmelitas e pelas suas obras místicas. O Papa Paulo VI  proclamou-a Doutora da Igreja.

A análise sucinta deste extrato manuscrito não tem por objetivo a elaboração de um estudo profundo da Santa, mas, apenas, a colocação em evidência de algumas tendências ou caraterísticas gerais da sua personalidade.

Este grafismo difere da escrita chamada “bastarda espanhola” e de outros manuscritos ou modelos paleográficos do século XVI, em que a tendência era a imitação da escrita dos mestres.

A análise gráfica deste poema, escrito por Teresa, com cerca de 60 anos de idade, revela uma escrita bastante legível, rítmica (semelhante a uma pauta musical), dinâmica, bem pressionada, inclinada para a direita, saltitante, desligada, com os ovais abertos na zona superior e angulosos na base. A letra “s” é desproporcionada, a margem esquerda crescente, os finais prolongados, as barras dos “tt” descendentes, as consoantes “nn” são parecidas com as vogais “uu”, os carateres “dd” encontram-se enlaçados” e a assinatura apresenta-se semelhante ao texto.

Teresa de Jesus (assim assinava a Santa) foge ao pendor caligráfico da época e concilia o aspeto funcional do grafismo (a legibilidade) com a liberdade de personalizar a forma (originalidade), sem cometer os excessos próprios de outros manuscritos contemporâneos.

Observando, de modo genérico, estes e outros parâmetros da escrita, pode concluir-se que Teresa era disciplinada, corajosa, constante, agressiva, combativa, dinâmica e rigorosa. Detentora de sólido espírito de decisão, manifestava-se coerente consigo própria e em relação aos outros. Intuitiva e criativa, era dotada de grande agilidade mental. De caráter firme e impulsivo, apresentava-se, temperamentalmente, enérgica. Apesar de conseguir um bom autodomínio, era vibrante e inquieta, manifestando tendência para uma acentuada sensibilidade artística.