Coloca-se a
questão: Corresponderá a “arquitetura” da escrita de Óscar Niemeyer à sua noção de arte? A sua
escrita será, predominantemente, angulosa ou arredondada? É, precisamente, este
dilema que vou aqui, brevemente, desvendar.
O famoso
arquiteto afirmava:
“O que me atrai é a curva livre e universal.
A curva que encontro nas montanhas do meu país, na mulher preferida, nas
nuvens do céu e nas ondas do mar. De curvas é feito todo o universo. O universo
curvo de Einstein.”
A sua escrita
é, de facto, arredondada e a linha de base não apresenta um alinhamento
horizontal rígido, mas avança com ligeira convexidade ou concavidade. A mesma
concavidade se verifica na margem esquerda. A ligação entre as letras apresenta
uma forma agrinaldada. A consoante “s”
minúscula, em vez de imitar o modelo escolar, com um ângulo no topo, contém uma
curvatura na parte superior. Nos ovais
não se observam ângulos. As vogais “AA” maiúsculas são elaboradas a partir dos
“aa” caligráficos minúsculos mais arredondados. As pintas dos “ii” e os pontos
finais são precisos e redondinhos. As hastes que se prolongam pelas zonas
superior e inferior não apresentam, geralmente, uma forma reta marcada. Os
próprios traços horizontais, como a barra do “t”, são pouco vincados. Os
ângulos da cabeça do “r” foram esbatidos. A assinatura não finaliza
com nenhuma rubrica angulosa ou prolongamento em segmento de reta. A pequena dimensão da escrita
afasta-nos duma conceção arquitetónica da forma como simples acessório,
mas aproxima-nos mais da forma como substância.
A inclinação para a direita dos carateres está
mais relacionada com a emoção do que com
a razão. As letras mais largas do que altas são sinal de maior tendência em
direção aos outros e ao meio. A valorização dos traços ovais em relação aos
verticais poderá simbolizar o predomínio da afetividade e da ternura sobre a
agressividade e o poder.
A
personalidade de Niemeyer parece mais próxima da “anima” do que do “animus” de Carl Gustav Jung.
A curvatura simbolizada pela concavidade do regaço materno predomina, em Niemeyer, sobre a trajetória reta do cajado masculino.
A curvatura simbolizada pela concavidade do regaço materno predomina, em Niemeyer, sobre a trajetória reta do cajado masculino.